sexta-feira, 23 de julho de 2010

Absolutamente nada se anteponha a Cristo!

Prof. José Pereira da Silva


No capítulo 72,11-12 da Regra de São Bento lemos: “Nada absolutamente prefiram ao Cristo, que nos conduza todos juntos para a vida eterna. Amém”.
É provavelmente o ponto culminante e a dimensão mais profunda de toda a Regra de São Bento (RB).
Sem o Cristo é o eixo em torno do qual tudo gira, a pedra angular, o foco de luz e calor que a tudo dá cor e que a tudo vivifica.Tudo se fará para que Deus seja glorificado (RB 57,8).
Desde o início do Prólogo, São Bento dizia que dirigia sua Regra a quem quer que, renunciando às próprias vontades, tomasse as armas muito poderosas e gloriosas da obediência, a fim de militar pelo Senhor Jesus Cristo. E agora, termina sua Regra, pedindo que nada se prefira ao Cristo.
Nada antepor ao Cristo é apenas a resposta ao amor de Cristo por nós. É a resposta que dá aquele que se encontrou com o Cristo (Fl 3,8). O amor ao Cristo deve ser profundo e ardente, deve crescer através de nossa vida cotidiana em suas dificuldades e momentos de desânimo.
Cristo é aquele que “obedeceu até á morte” segundo o capítulo 2 da Carta de São Paulo aos Filipenses. A parte central do capítulo 72 da RB faz uma espécie de paráfrase do início do capítulo 2 da Carta, que introduz o hino cristológico muito conhecido: “Ele, apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus, mas se esvaziou de si e tomou a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens (v.6)”. E faz um apelo a cada cristão: “(...) levai à plenitude minha alegria, sentindo as mesmas coisas, com amor mútuo, concórdia e procurando as mesmas coisas. Nada façais por ambição ou vanglória, mas com humildade tende os outros como melhores. Ninguém procure o próprio interesse, e sim o dos outros”. (vv.2-4).
E São Paulo resume nestas palavras tudo: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (v.5).
Assim, a finalidade da vida cristã é a gradual conformação à imagem do Cristo. O Cristo da Regra é o Cristo do Evangelho, que amou até à morte, e que reuniu em torno de si uma comunidade de discípulos para lhes ensinar a amar com o mesmo amor.
A comunidade de São Bento é a imagem da comunidade dos discípulos em torno de Jesus. À vida eterna não se chega se o Cristo não nos conduzir; e o Cristo aí nos conduz todos juntos e não como indivíduos isolados. Ele nos conduz se nós o tivermos amado acima de tudo; e provamos este amor se temos uns aos outros os mesmos sentimentos que eram do Cristo Jesus.
Este amor não é uma vaga atitude sentimental, mas uma disposição que nos torna cheios de respeito uns para com os outros. O que faz que não busquemos jamais o que nos é útil individualmente, mas o que é útil aos outros. Quanto mais cada um nada antepuser ao Cristo, tanto mais se tornará um com o irmão.
É porque Cristo se tornou nosso irmão e vive em cada irmão, que nós podemos praticar a caridade fraterna.
Nós sempre corremos o risco de antepor alguma coisa ao Cristo: os próprios interesses, as pessoas, as comodidades etc.
Cada cristão é chamado a se configurar gradualmente à imagem do Cristo, a viver a radicalidade do amor ao Cristo e os irmãos. O cristão é, pois, um comprometido com uma pessoa: Cristo, e com uma tarefa: a implantação do reino de Deus. Ser cristão é dizer Sim a Cristo. Compromisso que deve se renovar em cada palavra e ação.
Prof. José Pereira da Silva