quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Advento: Tempo da manifestação de Jesus Cristo

Prof. José Pereira


Mais um final de ano se aproxima. Percebe-se que a propaganda comercial “natalina” começa a pulular por todo lado, prometendo muita alegria e felicidade, ilusoriamente “embutidas” nos produtos de consumo. Esse é o natal do comércio. Já o natal do cristianismo é bem diferente, pois tem um sentido profundo.O natal do comércio gira em torno de objetos de consumo, já o Natal cristão gira em torno de uma pessoa: Jesus Cristo.
Como comunidade cristã iniciaremos domingo (28/11) nosso tempo de preparação para o Natal. A esse tempo nós chamamos de Advento: tem a ver com aguardo, espera. É um tempo próprio para fazermos um balanço e retomar nosso compromisso com o projeto de Deus.
Prepara-se para o Natal é abrir em nossa vida espaço para que Deus seja nela presença e oriente nossa maneira de ser e agir. É retomar o seguimento de Jesus, tornando-nos. como ele, discípulos missionários da vida e da paz, fazendo crescer em nós e no meio em que vivemos a certeza de que ele continua vindo através de nós. Despertar nos corações aquele profundo desejo e necessidade de Deus.
Abre a Igreja os braços a todos os homens para conduzi-los a Cristo, a fim de que, seguindo os ensinamentos dele, vivam como irmãos, na concórdia e na paz. Se o mundo atual está perturbado pelas guerras, desordens, dispersão de idéias, depravação de costumes, tudo isso deve ser o aviso: repudiando a Deus, perece o homem. Somente por Deus poderá ser salvo.
Aquela justiça e aquela santidade que o Salvador veio trazer à terra devem germinar e crescer no coração do cristão e, dali, estender-se pelo mundo. O tempo do Advento é um momento oportuno de prepararmos o nossa coração para acolher a Deus que vem, Deus-conosco.
Precisamos ser homens e mulheres de esperança, que acolham a mensagem que nos chega da gruta de Belém: Deus ama os homens e as mulheres da Terra e lhes dá esperança de um novo tempo,um tempo de paz. Acolhido no intimo do coração, esse Amor, que nos reconcilia com Deus e com o próximo, faz nascer a esperança e a paz.
Num mundo em que se valorizam cada vez mais a matéria e as coisas materiais como respostas à felicidade humana, não existe o necessário cuidado com o coração, até por ser invisível aos olhos puramente materiais.

O ciclo litúrgico do Natal, numa visão bem abrangente, tem início com o primeiro domingo do Advento, em começos de dezembro, e seu término no segundo domingo depois da Epifania, o domingo do Batismo de Jesus, em janeiro. O Advento não é simplesmente preparação para a celebração do nascimento de Jesus, mas expectativa pela realização do mistério da redenção.
Toda a existência cristã é caracterizada pelo Advento-Vinda, o que vale dizer que somos peregrinos na História, a caminho da Pátria definitiva. O Senhor permanentemente vem ao nosso encontro, caminha conosco e mantém viva a nossa esperança. O nosso peregrinar não é um vagar desorientado sem bússola e sem meta pelas estradas do mundo. É Cristo a luz que ilumina o nosso caminho. É ele que nos ensina o caminho que conduz ao Pai.
O advento é paradigma da condição peregrinante do cristão. A condição peregrinante nos deve ensinar, pois, a valorizar com sabedoria os bens da terra, na contínua busca dos bens do céu, e a viver de maneira consciente, lúcida e crítica, a relação com o tempo para dar a ele um sentido como evento de encontro com os valores que nos fazem antegozar já, aqui e agora, as realidades futuras. O Advento é metáfora da vida cristã como movimento, busca, ansiedade. É um apelo a superar a estagnação, a indiferença, a frigidez das quais frequentemente somos vítimas. Somos convocados a percorrer com Jesus Cristo um itinerário pascal.
O Advento é um tempo de preparação para as festas epifânicas; tem como tarefa preparar-nos para receber o Senhor que vem e se manifesta a nós. Sendo assim, a manifestação do Senhor tem dois aspectos: a manifestação em nossa carne ao nascer, que constitui sua primeira vinda; e a manifestação em glória e majestade no final dos tempos, que constitui sua segunda vinda, ou seja, a parusia (do grego parousía = presença).
Seríamos muito pobres se reduzíssemos o Advento, simplesmente, a um tempo de preparação para a festa do Natal. O Advento, tempo de espera, é baseado na expectativa da vinda do Reino e a nossa atitude básica é acender e renovar em nós esse desejo e esse ânimo. Num tempo marcado pelo consumo, é preciso que afirmemos profeticamente a esperança. No âmbito pessoal, intensificando o desejo do coração e retomando o sentido da vida.
São Bernardo de Claraval (1091-1153) falava de três Adventos (ou vindas do Senhor). Na primeira vinda, o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Na última, “todo homem verá a salvação de Deus” (Lc 3,6), é a parusia. Entre os dois Adventos históricos, existe um que é espiritual, e está acontecendo a cada instante de nossa existência. É aquele em que Cristo quer vir até nós e penetrar em nosso íntimo, a fim de tornar-se realmente um-conosco. O próprio Cristo se faz nosso convidado, quer ser nosso íntimo, quando afirma: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”(Ap 3,20). É a formação de Cristo em nós de tal sorte que fazemos nossas as palavras de São Paulo: “Eu vivo, mas não sou mais eu, é Cristo que vive em mim. Pois a minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”(Gl 6,17), e também: “Eu trago em meu corpo as marcas de Jesus”(Gl 6,17).
Seja Jesus Cristo gerado em nós, transformando-nos nele. Passaremos então a viver, na alegria e na esperança, a vida nova que ele nos traz em cada aniversário de seu nascimento.