Por Pe. Jaime Lemes, msj
“Será mesmo o fim?”. Este foi o questionamento de muitas pessoas com quem conversei a respeito dos últimos acontecimentos. Certamente, essa indagação ainda paira sobre a cabeça de muita gente. Quem que, diante de tantas cenas trágicas, não foi em algum momento tomado de sobressalto por essa ideia? Confesso que até eu.
Não teria como passar despercebido a ninguém, mesmo para as personalidades mais alheias às coisas deste mundo, os últimos acontecimentos, de modo particular os desastres causados pelas chuvas no Brasil e o terremoto que devastou Porto Príncipe, a capital do Haiti, vitimando mais de 100 mil pessoas, dentre as quais, vários brasileiros civis e militares que estavam lá em missão humanitária. Ambos os cenários são os retratos mais recentes da tragédia humana. Em face dessa realidade, há que se empreender um esforço conjunto não apenas para solucionar os problemas emergenciais, que sem dúvida precisam ser solucionados, mas também e com desmedido empenho pensar em ações práticas e eficazes que mudem radicalmente a relação do ser humano com a natureza, uma relação até então predatória, de exploração.
Recentemente, na Conferência de Copenhague, até houve um esforço, porém frustrado, para estabelecer algumas metas preventivas ao famigerado aquecimento global. A principal delas seria diminuir radicalmente a emissão de gases poluentes. Não houve acordo. Parece que os que governam o mundo não estão preocupados com o futuro do planeta e, consequentemente, com o destino da humanidade.
Parece inevitável, sobretudo para quem foi diretamente atingido, que todo esse caos provocado pela força da natureza seja mesmo prenúncio do fim dos tempos. Quantas famílias inteiras dizimadas! Quantas pessoas desabrigadas, feridas no corpo e na alma! Tenho um amigo em São Luiz do Paraitinga, o Felipe, que perdeu tudo. Ele morava com a mãe, Paula, e os seus cinco gatos. No dia da enchente, ele estava viajando, só ficou a sua mãe e os gatos em casa. Ela conseguiu se salvar e conta em detalhes regados de emoção como tudo aconteceu, em seu blog http://www.diariosdoretiro.blogspot.com/. Vale a pena ler. Este é apenas um dentre milhares de outros relatos que revelam o sofrimento e a luta pela sobrevivência.
Por outro lado, todos esses acontecimentos lamentáveis revelam outra face da tragédia: a sensibilidade humana na sua mais alta expressão, a solidariedade. É impressionante a participação das pessoas nas campanhas em prol dos desabrigados pela chuva e em prol do Haiti. Ao menos por alguns momentos cessam-se as diferenças religiosas, sociais e políticas; todos se unem por uma mesma causa. Isso nos faz pensar que nem tudo é o fim, que ainda há uma luz de esperança, que temos de continuar acreditando no ser humano. Pena que aqueles que têm nas mãos o poder direto e legítimo de mudar os rumos do mundo permanecem impassíveis à beleza do gesto dos mais simples e pequenos.
VEJA TAMBÉM: “2010, O Ano que não começou” - um documentário de oito minutos produzido por alunos de Jornalismo da Unitau – www.youtube.com/watch?v=09EKyXyl5c8.