quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Advento: Tempo da manifestação de Jesus Cristo

Prof. José Pereira


Mais um final de ano se aproxima. Percebe-se que a propaganda comercial “natalina” começa a pulular por todo lado, prometendo muita alegria e felicidade, ilusoriamente “embutidas” nos produtos de consumo. Esse é o natal do comércio. Já o natal do cristianismo é bem diferente, pois tem um sentido profundo.O natal do comércio gira em torno de objetos de consumo, já o Natal cristão gira em torno de uma pessoa: Jesus Cristo.
Como comunidade cristã iniciaremos domingo (28/11) nosso tempo de preparação para o Natal. A esse tempo nós chamamos de Advento: tem a ver com aguardo, espera. É um tempo próprio para fazermos um balanço e retomar nosso compromisso com o projeto de Deus.
Prepara-se para o Natal é abrir em nossa vida espaço para que Deus seja nela presença e oriente nossa maneira de ser e agir. É retomar o seguimento de Jesus, tornando-nos. como ele, discípulos missionários da vida e da paz, fazendo crescer em nós e no meio em que vivemos a certeza de que ele continua vindo através de nós. Despertar nos corações aquele profundo desejo e necessidade de Deus.
Abre a Igreja os braços a todos os homens para conduzi-los a Cristo, a fim de que, seguindo os ensinamentos dele, vivam como irmãos, na concórdia e na paz. Se o mundo atual está perturbado pelas guerras, desordens, dispersão de idéias, depravação de costumes, tudo isso deve ser o aviso: repudiando a Deus, perece o homem. Somente por Deus poderá ser salvo.
Aquela justiça e aquela santidade que o Salvador veio trazer à terra devem germinar e crescer no coração do cristão e, dali, estender-se pelo mundo. O tempo do Advento é um momento oportuno de prepararmos o nossa coração para acolher a Deus que vem, Deus-conosco.
Precisamos ser homens e mulheres de esperança, que acolham a mensagem que nos chega da gruta de Belém: Deus ama os homens e as mulheres da Terra e lhes dá esperança de um novo tempo,um tempo de paz. Acolhido no intimo do coração, esse Amor, que nos reconcilia com Deus e com o próximo, faz nascer a esperança e a paz.
Num mundo em que se valorizam cada vez mais a matéria e as coisas materiais como respostas à felicidade humana, não existe o necessário cuidado com o coração, até por ser invisível aos olhos puramente materiais.

O ciclo litúrgico do Natal, numa visão bem abrangente, tem início com o primeiro domingo do Advento, em começos de dezembro, e seu término no segundo domingo depois da Epifania, o domingo do Batismo de Jesus, em janeiro. O Advento não é simplesmente preparação para a celebração do nascimento de Jesus, mas expectativa pela realização do mistério da redenção.
Toda a existência cristã é caracterizada pelo Advento-Vinda, o que vale dizer que somos peregrinos na História, a caminho da Pátria definitiva. O Senhor permanentemente vem ao nosso encontro, caminha conosco e mantém viva a nossa esperança. O nosso peregrinar não é um vagar desorientado sem bússola e sem meta pelas estradas do mundo. É Cristo a luz que ilumina o nosso caminho. É ele que nos ensina o caminho que conduz ao Pai.
O advento é paradigma da condição peregrinante do cristão. A condição peregrinante nos deve ensinar, pois, a valorizar com sabedoria os bens da terra, na contínua busca dos bens do céu, e a viver de maneira consciente, lúcida e crítica, a relação com o tempo para dar a ele um sentido como evento de encontro com os valores que nos fazem antegozar já, aqui e agora, as realidades futuras. O Advento é metáfora da vida cristã como movimento, busca, ansiedade. É um apelo a superar a estagnação, a indiferença, a frigidez das quais frequentemente somos vítimas. Somos convocados a percorrer com Jesus Cristo um itinerário pascal.
O Advento é um tempo de preparação para as festas epifânicas; tem como tarefa preparar-nos para receber o Senhor que vem e se manifesta a nós. Sendo assim, a manifestação do Senhor tem dois aspectos: a manifestação em nossa carne ao nascer, que constitui sua primeira vinda; e a manifestação em glória e majestade no final dos tempos, que constitui sua segunda vinda, ou seja, a parusia (do grego parousía = presença).
Seríamos muito pobres se reduzíssemos o Advento, simplesmente, a um tempo de preparação para a festa do Natal. O Advento, tempo de espera, é baseado na expectativa da vinda do Reino e a nossa atitude básica é acender e renovar em nós esse desejo e esse ânimo. Num tempo marcado pelo consumo, é preciso que afirmemos profeticamente a esperança. No âmbito pessoal, intensificando o desejo do coração e retomando o sentido da vida.
São Bernardo de Claraval (1091-1153) falava de três Adventos (ou vindas do Senhor). Na primeira vinda, o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Na última, “todo homem verá a salvação de Deus” (Lc 3,6), é a parusia. Entre os dois Adventos históricos, existe um que é espiritual, e está acontecendo a cada instante de nossa existência. É aquele em que Cristo quer vir até nós e penetrar em nosso íntimo, a fim de tornar-se realmente um-conosco. O próprio Cristo se faz nosso convidado, quer ser nosso íntimo, quando afirma: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”(Ap 3,20). É a formação de Cristo em nós de tal sorte que fazemos nossas as palavras de São Paulo: “Eu vivo, mas não sou mais eu, é Cristo que vive em mim. Pois a minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”(Gl 6,17), e também: “Eu trago em meu corpo as marcas de Jesus”(Gl 6,17).
Seja Jesus Cristo gerado em nós, transformando-nos nele. Passaremos então a viver, na alegria e na esperança, a vida nova que ele nos traz em cada aniversário de seu nascimento.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Abrir a Bíblia é encontrar Cristo

Prof. José Pereira da Silva



O mês de setembro é na Igreja Católica dedicado a Bíblia. “Na Sagrada Escritura Deus falou através de homens e de modo humano” (DV, 12).
A Bíblia é considerada “o alimento espiritual” por excelência, uma vez que foi inspirada por Deus, segundo as palavras de São Paulo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2Tm 3,16).
A Igreja “exorta todos os fiéis cristãos, com veemência e de modo peculiar... a que pela freqüente leitura das divinas Escrituras aprendam ‘a eminente ciência de Jesus Cristo’. Lembrem-se, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, afim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem; pois ‘a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’ (Sto. Ambrósio).
Os Padres espirituais, parafraseando Mt 7, 7, resume assim as disposições do coração alimentado pela Palavra de Deus na oração: “Procurai pela leitura,e encontrareis meditando; batei orando, e vos será aberto pela contemplação”(Guigo, o Cartuxo, Scala: PL 184,746c).
A Bíblia é uma forma de presença de Deus no meio de seu povo. Ela nos faz ouvir a Deus, a Ele nos conduz e nos faz conhecer seu amor. Se estivermos abertos à ação do espírito santo, a Bíblia nos fará não só ter um conhecimento teórico da Palavra de Deus, mas também experimentar vivamente o amor com que Deus nos ama. Essa experiência é essencial na vida cristã.
O Papa João Paulo II disse que a: “Bíblia é a história de como Deus ama seu povo”(Familiaris Consortio, 12). A história de como Deus amo seu povo, de como Deus agiu, age e agirá na história da humanidade.
A leitura da Bíblia funciona como colírio. Vai limpando os olhos, devolve o olhar da contemplação que nos foi roubado pelo pecado (Sto. Agostinho), e nos torna capazes de tirar o véu dos fatos para experimentar neles a presença libertadora de Deus.
Jesus Cristo é a chave principal para se ler e entender a Sagrada Escritura. Jesus é o centro, a plenitude e o objetivo da revelação que Deus vinha fazendo de si, desde Abraão e desde a Criação. “As Sagradas Escrituras devem ser lidas e interpretadas com o mesmo Espírito com que foram escritas”.
Ao lermos a Bíblia temos a certeza de que “tudo o que foi escrito, o foi para a nossa instrução para que, pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15, 4). A Sagradas Escritura não é apenas o livro daquilo que Deus disse e fez, mas palavra que Deus diz hoje para mim. Devemos aproximar-nos da Palavra de Deus com a firme convicção de que nos aproximamos de um sacramento de salvação.
Lendo a Bíblia devemos nos sentir diretamente interpelado pelo Pai, que, como a Pedro, Tiago e João, no monte Tabor, lhe diz: “Este é meu Filho... escuta-o”. Deve-se manter, pois, numa atitude de máxima atenção, para ouvir Deus que “nesses últimos tempos falou por meio de seu Filho” (Hb 1,2).
Em Cristo se ouve com nitidez a voz do Pai que fala ao homem. Jesus, presente na Palavra de Deus é o intérprete oficial que traduz as Palavras divinas, “as palavras inefáveis que o homem não pode pronunciar” (2 Cor 12,4) em linguagem humana e que traduz o pobre balbuciar humano em linguagem humana.
O encontro com Deus através da Palavra se traduz em paz e alegria espirituais, em novas energias e ímpetos de servir a Deus, e também, paralelamente, numa progressiva descoberta de sua própria pequenez e limitações, numa sensação de se estar movendo no maravilhoso mundo da Verdade e da Vida divinas. Os discípulos de Emaús são um exemplo muito expressivo dessa experiência única: “Não ardia nosso coração enquanto nos falava no caminho explicando-nos as Escrituras?” (Lc 24,32).
Na leitura descobrir o que Deus nos diz naquele momento para dar-lhe uma resposta generosa: é uma meditação que nos abre o caminho para penetrar no mistério de Deus. É dedicar um tempo a viver, do modo mais consciente possível, aqui e agora, a vida divina da qual fomos feitos participantes por Cristo.
É necessário que seja uma leitura tranqüila, repousada, interiorizada. Feita com a clara consciência de viver o que se lê.
Um dos métodos para descobrir a Bíblia como caminho de encontro com Jesus Cristo e para fazer a experiência de seu amor neste encontro, é a Leitura Orante. Ele vem da antiga tradição da Igreja. A leitura orante da Bíblia se compõe de 4 passos: a leitura do texto, a meditação, a oração e a contemplação.
O primeiro passo é a leitura do texto. Começa-se pela escolha de um trecho da Bíblia, de preferência dos Evangelhos. Na leitura do texto, podemos conhecer primeiro a letra da Palavra de Deus, para penetrar em seguida no seu espírito e compreender seu sentido. É preciso ler devagar, com toda atenção, e deixar-se envolver pelo texto.
O segundo passo é a meditação do texto. Na meditação perguntamos: o que diz o texto para mim, para nós, hoje? O que Deus quer dizer a nós hoje através do texto lido? Na meditação, trata-se, portanto, de tornar o texto atual e trazê-lo para dentro de nossa vida e realidade.
O terceiro passo é rezar. A oração, aliás, deve estar presente desde o início da leitura orante, quando invocamos o espírito santo, a fim de que Ele nos ilumine e acompanhe na leitura. A meditação nos deve levar à oração, nos deve levar a falar com deus sobre o que o texto nos diz.
No quarto passo, entramos na contemplação. Os três passos anteriores, assim, por nos fazer contemplar a Deus, nos colocam diante de Deus e nos faz experimentar o mistério de seu amor. O amor, simultaneamente, procede da palavra e precede a palavra.
A Bíblia é um Livro Vivo. Sob suas fórmulas esconde-se a misteriosa presença de Deus que nos interpela quando a lemos. Quando escutamos suas palavras, no dizer de São Gregório Magno (590-604), “é como se víssemos sua própria boca”. E esse Livro Vivo, em sua totalidade, converge para Cristo: “Toda a divina Escritura é um livro e este único livro é Cristo. Abrir a Bíblia é encontrar Cristo. São Jerônimo (347-420) tem esta frase famosa: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Que possamos repetir com Santo Agostinho (354-430): “Com tua palavra percutiste o meu coração e te amei”.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Absolutamente nada se anteponha a Cristo!

Prof. José Pereira da Silva


No capítulo 72,11-12 da Regra de São Bento lemos: “Nada absolutamente prefiram ao Cristo, que nos conduza todos juntos para a vida eterna. Amém”.
É provavelmente o ponto culminante e a dimensão mais profunda de toda a Regra de São Bento (RB).
Sem o Cristo é o eixo em torno do qual tudo gira, a pedra angular, o foco de luz e calor que a tudo dá cor e que a tudo vivifica.Tudo se fará para que Deus seja glorificado (RB 57,8).
Desde o início do Prólogo, São Bento dizia que dirigia sua Regra a quem quer que, renunciando às próprias vontades, tomasse as armas muito poderosas e gloriosas da obediência, a fim de militar pelo Senhor Jesus Cristo. E agora, termina sua Regra, pedindo que nada se prefira ao Cristo.
Nada antepor ao Cristo é apenas a resposta ao amor de Cristo por nós. É a resposta que dá aquele que se encontrou com o Cristo (Fl 3,8). O amor ao Cristo deve ser profundo e ardente, deve crescer através de nossa vida cotidiana em suas dificuldades e momentos de desânimo.
Cristo é aquele que “obedeceu até á morte” segundo o capítulo 2 da Carta de São Paulo aos Filipenses. A parte central do capítulo 72 da RB faz uma espécie de paráfrase do início do capítulo 2 da Carta, que introduz o hino cristológico muito conhecido: “Ele, apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus, mas se esvaziou de si e tomou a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens (v.6)”. E faz um apelo a cada cristão: “(...) levai à plenitude minha alegria, sentindo as mesmas coisas, com amor mútuo, concórdia e procurando as mesmas coisas. Nada façais por ambição ou vanglória, mas com humildade tende os outros como melhores. Ninguém procure o próprio interesse, e sim o dos outros”. (vv.2-4).
E São Paulo resume nestas palavras tudo: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (v.5).
Assim, a finalidade da vida cristã é a gradual conformação à imagem do Cristo. O Cristo da Regra é o Cristo do Evangelho, que amou até à morte, e que reuniu em torno de si uma comunidade de discípulos para lhes ensinar a amar com o mesmo amor.
A comunidade de São Bento é a imagem da comunidade dos discípulos em torno de Jesus. À vida eterna não se chega se o Cristo não nos conduzir; e o Cristo aí nos conduz todos juntos e não como indivíduos isolados. Ele nos conduz se nós o tivermos amado acima de tudo; e provamos este amor se temos uns aos outros os mesmos sentimentos que eram do Cristo Jesus.
Este amor não é uma vaga atitude sentimental, mas uma disposição que nos torna cheios de respeito uns para com os outros. O que faz que não busquemos jamais o que nos é útil individualmente, mas o que é útil aos outros. Quanto mais cada um nada antepuser ao Cristo, tanto mais se tornará um com o irmão.
É porque Cristo se tornou nosso irmão e vive em cada irmão, que nós podemos praticar a caridade fraterna.
Nós sempre corremos o risco de antepor alguma coisa ao Cristo: os próprios interesses, as pessoas, as comodidades etc.
Cada cristão é chamado a se configurar gradualmente à imagem do Cristo, a viver a radicalidade do amor ao Cristo e os irmãos. O cristão é, pois, um comprometido com uma pessoa: Cristo, e com uma tarefa: a implantação do reino de Deus. Ser cristão é dizer Sim a Cristo. Compromisso que deve se renovar em cada palavra e ação.
Prof. José Pereira da Silva

terça-feira, 22 de junho de 2010

Aprender a ser cristão: dignidade e espiritualidade

Prof. José Pereira da Silva


“É necessário aprender a viver a qualidade alta da vida cristã”, disse o Papa João Paulo II, encerramento do Grande Jubileu do Ano 2000 . Ser cristão é uma alegria, uma missão e um desafio, principalmente no mundo atual.
Essa consciência da dignidade de ser cristão e suas exigências, encontramos desde o início da Igreja. Dizia São Leão Magno (440-461): “Demos graças, portanto, irmãos bem-amados a Deus Pai, seu Filho, no Espírito santo. Porque, na sua grande misericórdia e no seu amor por nós, Ele teve piedade de nós.Quando estávamos mortos pelo pecado, Ele fez -nos tornar a viver por Cristo, querendo que sejamos n’Ele uma nova criação, uma nova obra das suas mãos (Ef 2,4-5;2 Cor 5,1-7).(...) Cristão,toma consciência da tua dignidade.”(1 Sermão para Natividade do Senhor).
O comportamento cotidiano e os costumes da maioria não podem ser o modelo do engajamento cristão. O cristão é orientado pelo Evangelho e pela fé em Cristo. Deve-se então agir para que a fé dirija a vida e não o contrário. Lemos em São Paulo: “Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós” (2 Cor 5,20).
Para isso é preciso uma profunda experiência de Deus através de uma espiritualidade cristã, para isso é preciso voltar às fontes dessa espiritualidade. É preciso atenção à vida espiritual, à presença escondida de Deus em nós, à sinceridade da consciência e à purificação, à conversão do coração.
O cristão não deve se descuidar do crescimento interior, que consiste no conhecimento de Deus. Somente o amor divino nos faz abrir o coração aos demais e nos torna sensíveis às suas necessidades, fazendo-nos considerar todos como irmãos e irmãs e convidando-nos a responder com amor ao ódio e com perdão à ofensa.
Fazer a experiência pessoal de Deus na própria vida. É necessário que aprofundemos na vida aquilo que professamos na fé. Às vezes, repetem-se, por isso, de maneira pobre, fórmulas que não constituem uma conquista pessoal, uma conquista da inteligência e de experiência vivencial. É a exigência de encarnar a experiência da fé na realidade (unir fé e vida).
A espiritualidade cristã se parece com a umidade e a água que mantêm a relva molhada, para que esta esteja sempre verde e em crescimento. Não se pode ver a água e a umidade do gramado, mas sem elas a relva fica seca. O que se vê é o gramado, com seu verdor e sua beleza. E é o gramado que queremos cultivar. Mas sabemos que, para tanto, devemos regá-lo e mantê-lo úmido. O gramado, a relva, representa a vida das pessoas . A água é a vida de Deus que nos é comunicada. No episódio da samaritana, Jesus nos ensina que não podemos extrair totalmente essa água de nós mesmos e que se trata de uma água que deve durar para sempre: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva! (...) Aquele que bebe desta água (do poço) terá sede novamente; mas quem beber da água que eu lhe darei nunca mais terá sede”(Jo 4,10-14).
Essa água se traduz para nós como motivações e inspiração para trabalhar, lutar, sofrer, viver sem egoísmo, viver de maneira digna e humana. A fonte da espiritualidade e mística cristã é uma experiência e um encontro, ou seja, com a Pessoa de Jesus Cristo. Lemos no documento de Aparecida: “A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (n.12).
A espiritualidade é a motivação que impregna os projetos e compromissos da vida. A espiritualidade cristã tem sua fonte na experiência de fé. Não a fé em Cristo e seu Evangelho pura e simplesmente, mas em Cristo e seu Evangelho feitos experiência. A espiritualidade cristã é a motivação que se refere explicitamente a Jesus, seu Evangelho e a justiça de seu Reino.
A espiritualidade representa a busca por vivacidade e a libertação dos grilhões da mediocridade que amortecem o espírito. Devemos experimentar o amor de Deus, como diz Thomas Merton: “Há muitos cristãos que não apreciam a dignidade magnífica de sua vocação para a santidade, para o conhecimento, o amor e o serviço de Deus. Há muitos cristãos que não se dão conta das possibilidades que Deus colocou na vida de perfeição cristã – possibilidades de satisfação no conhecimento e amor dele. Há muitos cristãos que praticamente não fazem a mínima idéia do amor imenso que Deus tem por eles, e do poder desse amor de fazer-lhes o bem, de lhes dar felicidade”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Corpus Christi: A Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo


Prof. José Pereira da Silva


Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi), na qual celebramos a instituição da Eucaristia, sacramento da doação, morte e ressurreição de Jesus.
A solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é uma celebração que tem raízes profundas na piedade do povo cristão. Surgiu como resultado da devoção eucarística, iniciada na França e na Bélgica, e que do século XII em diante se desenvolveu, acentuando particularmente a presença real de Cristo no sacramento e, portanto, a sua adoração. Certamente, foram as visões de Juliana de Cornillon, monja agostiniana de Liège (Bélgica), que tiveram influência decisiva na instituição da festa para toda a Igreja, realizada pelo Papa Urbano IV, em 1264.
A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é um eco da última ceia do Senhor com os seus discípulos. O povo exprime a grandeza de sua fé e de sua devoção à Eucaristia pelas procissões e por inúmeras manifestações de piedade.
A Eucaristia é, por excelência, mistério da fé. A fé da Igreja é essencialmente fé eucarística e alimenta-se, de modo particular, à mesa da Eucaristia.
A festa é expressão pública da fé na presença de Cristo em sua Igreja por meio da Eucaristia, que congrega seu povo e o confirma na unidade pela participação à mesa da comunhão do Corpo e Sangue do Senhor. “A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia precisamente porque o próprio Cristo se deu a ela no sacrifício da cruz”(Sacramentum Caritatis,14).
Na solenidade do Corpo de Cristo, louvemos a Deus porque ele continua derramando seu amor em nós pelo Espírito Santo e nos alimentando com a Eucaristia, pão da vida (Jo 6,35).
Na celebração eucarística, realiza-se a promessa de Jesus: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha vida” (Jo 6,51).
Comendo do pão e bebendo do cálice da Eucaristia, recebemos Jesus como alimento e bebida: sua vida doada para a vida do mundo, até que a efusão de seu sangue torne-se nossa vida, para a eternidade. “Assim Jesus manifesta-se como o pão da vida que o Pai eterno dá aos homens” (Sacramentum Caritatis,7).
A Eucaristia é o memorial da vida e morte de Jesus, é dom que comunica seu amor e sua vida. Da parte dos seguidores de Jesus, a Eucaristia é aceitação que gera nova conduta. O dom recebido impulsiona à doação. É o amor que responde com gestos de amor solidário.
A Eucaristia é memorial de Deus que atuou e continua presente na história. Por isso, a Eucaristia é uma memória, aberta, ágil e transformadora, que impulsiona na busca do novo céu e da nova terra, comprometendo a organização e a vivência de relações sociais e comunitárias à luz do projeto de Jesus.
Participar da Eucaristia, memorial vivo da entrega de Jesus, deve provocar em nós ações como as de Jesus. Celebrar em memória dele significa fazer o que ele fez – ser alimento para a vida do mundo.
O encontro com Cristo, aprofundado na Eucaristia, suscita em cada cristão, a urgência de testemunhar e de evangelizar. Entrar em comunhão com Cristo no memorial da Eucaristia significa, ao mesmo tempo, experimentar o dever de fazer-se missionário do acontecimento libertador atualizado pela celebração eucarística. O Senhor nos envia a impregnar a sociedade dos valores da Eucaristia.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Importância da Oração Ligada à Vida

Prof.José Pereira da Silva

Deus Pai nos pôs no mundo não para viver nele com olhar adormecido, mas para buscar suas marcas nas coisas, nos acontecimentos, nas pessoas. Tudo deve nos falar de Deus. Não são necessárias longas orações para sorrirmos para Cristo nos menores detalhes de nossa vida diária.
Se soubermos escutar a Deus, se soubermos contemplar a vida, toda a vida se converterá em oração. Pois toda a vida se desenvolve sob o olhar de Deus, e não deveríamos viver uma única graça sem oferecê-la a ele.

Mesmo, a oração silenciosa, que vai além das palavras, não pode privar-se da vida. Pois a vida de cada dia é o principal alimento de nossa oração.
A vida, o rezar com a vida não é outra coisa que tornar-se uma sincera e harmoniosa teofania do Deus que trazemos dentro de nós. O amor e o bem nos permitem revelar as riquezas que trazemos escondidas dentro de nós. A bondade e a defesa dos valores humanos e espirituais nos fazem orantes.
Na vida de cada dia, é necessário fazer uma pequena distinção a respeito da oração: o ato da oração, momento de silêncio, de encontro, de concentração, em que dialogamos e nos dedicamos totalmente a falar e escutar a Deus,e a oração atitude,maneira de ser,de orientar,de canalizar todas as nossas forças na luz que irradia do evangelho.

Uma vida fecundada pela palavra do Senhor nos leva a agir buscando a comunhão com Deus, consigo mesmo, com os outros e com o mundo. A oração na vida tem como finalidade realizar nossa felicidade, harmonizar os contrastes e os conflitos em que vivemos. A oração deve realizar o verdadeiro equilíbrio que nos permite passar nossa estada aqui na terra fazendo o bem a todos e vivendo a plena alegria de ser. A oração se faz vida quando, olhando ao nosso redor, depois de termos conversado com Deus, sentimos que é necessário lutar para que a ordem social, desequilibrada pela maldade humana, possa readquirir os seus verdadeiros valores.

Não tenho tempo. Eis aqui uma das explicações, uma das desculpas mais freqüentes na hora de justificar a falta de uma entrega específica ao que chamamos oração. Se realmente quisermos ver o Senhor em cada pessoa, em cada criação, em cada situação, antes teremos de conhecê-lo de perto. Teremos de gravitar na órbita mais próxima possível do mistério de Deus. E nenhuma é tão próxima como a que se alcança estando “muitas vezes... a sós... travando amizade... com quem sabemos nos amar”.

Das 24 horas do dia, alguns poderão dedicar-lhe mais tempo, outros menos. O importante é que nossa atenção a respeito do amor de Deus por nós, habitualmente dispersa, possa – ainda que apenas por alguns minutos –, tornar-se total e plena. Com o dom do tempo expressa-se como de nenhuma outra maneira o dom de si mesmo. O que permanece imprescindível é de vez em quando poder pensar em Deus vendo, simplesmente, nossa atividade concreta de todos os momentos dentro da relação de nossa vida de fé.

Na realidade, nossa vida cristã não é outra coisa senão nossa própria vida humana iluminada pela fé. Tudo o que nos rodeia, nossa realidade pessoal; o amor de quem nos quer e a rejeição de quem nos despreza; o trabalho que trazemos nas mãos e as sonhadas pontes de descanso; o vento que nos acaricia ou nos arrasta; a luta contra a corrente ou o caminhar com o vento a favor etc. são apenas diferentes formas de linguagem com que Deus Pai deseja comunicar-se.

Devemos reservar diariamente um tempo de silêncio e solidão para oração. Um tempo para ajudar-nos a encontrar nosso Deus ao longo das mil vicissitudes do resto do dia. Esse tempo de oração deve nos acostumar e nos capacitar a encontrar Deus com Ele estabelecendo nosso diálogo amoroso, tanto no trabalho como no descanso, tanto no barulho como no silêncio. A essência da oração não é o silêncio, mas o amor. O amor que descobrimos, sobre o qual refletimos, diante do qual nos assombramos em meio ao clima de silêncio e solidão, deve ser a chave para o encontrarmos no coração de cada fato da vida.

Nosso estilo de trabalhar, de interpretar cada acontecimento doloroso ou feliz, o empenho ou desinteresse que imprimimos a nossa atividade, o colorido que vemos nos acontecimentos ao nosso redor... tudo isto é manifestação do amor que nos anima. Tudo em nossa vida deve ser um trampolim, pretexto ou elo de relação com Deus, desde os compromissos temporais mais absorventes até os acontecimentos mais banais. Aceitar, agir e trabalhar nas condições concretas de nossa existência é aceitar a relação com Deus dentro do plano que Ele pretende realizar no mundo. O que aperfeiçoa a humanidade é a obra conjunta nossa e de Deus.

Nosso orar deve provir de nosso viver, ser parte do mesmo, desembocar nele. É preciso evitar que a oração fique desconectada da vida. Nossa existência nos foi dada como o maior dos dons para que vivêssemos sua realidade: com alegrias e tristezas, êxitos e fracassos. Em sua totalidade, precisamos convertê-la em matéria-prima de nossa oração.

Para o cristianismo, a vida não é algo de que se deva fugir, mas que deve ser assumida como é, com alegrias e tristezas. Cristo encarnou-se e, como prova, não apenas adotou nossa natureza como experimentou a alegria da família, da amizade, de fazer o bem aos outros, da mesma forma que não evitou a fadiga do trabalho e o desencanto da traição. Nossa oração não deve ser algo acrescentado ou artificial em nossa existência; devemos nos convencer de que nossa própria existência é o lugar do compromisso, molde e forma de nossa oração. Deus sempre se comunica conosco. Esconde-se atrás de cada episódio que nos acontece e precisamos ser capazes de descobri-lo em sua transparência. Nunca devemos esquecer que a oração de cada dia será feita do mesmo barro do qual é feito cada dia de nossa vida.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Dia Mundial das Comunicações Sociais: os desafios e possibilidades do mundo digital


Por: Prof.José Pereira da Silva

“O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos meios a serviço da Palavra” é o tema escolhido pelo Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações de 2010,a ser celebrado no domingo,dia 16 de maio.
A mensagem para o 44 Dia Mundial das Comunicações Sociais se dirige especialmente aos sacerdotes,neste Ano sacerdotal.Porém a mensagem é válida para toda a Igreja e para as pessoas que se interessam por comunicação.
No pontificado do Papa Paulo VI,no ano de 1967,é publicado a primeira carta temática sobre o dia mundial das comunicações.De lá para cá temos a cada ano uma carta abordando um tema do mundo das comunicações.
Para o ano de 2010,o Papa Bento XVI faz o convite aos sacerdotes para que considerem os novos meios de comunicação e os coloquem a serviço da Evangelização.É preciso enfrentar os desafios derivados da nova cultura digital.
Se os novos meios forem conhecidos e avaliados adequadamente,podem oferecer aos sacerdotes e a todos os agentes de pastoral uma riqueza de dados e conteúdos que antes eram de difícil acesso,e facilitam formas de colaboração,crescimento e de comunhão impensáveis no passado.
O Papa Bento XVI tem profunda consciência de que o encontro do homem de hoje com Jesus é,como sempre foi ,um evento de primeira importância.O Evangelho deve ser comunicado.A Palavra deve ser anunciada.
O Papa Bento XVI pede aos sacerdotes que lancem mão dos meios modernos de comunicação,principalmente daqueles que nos últimos anos conheceram uma larga difusão,como a internet,a fim de que a mensagem de Jesus Cristo possa difundir-se de modo eficaz no mundo contemporâneo.
A comunicação penetra toda a vida da Igreja,a atividade de seus membros,sejam pastores ou fiéis.E,se se quer que a mensagem chegue às pessoas de nosso tempo,em particular também aos jovens – os nativos digitais -,a comunicação da Igreja deve encarnar-se nas novas tecnologias,deve ter em conta as novas técnicas e as novas atitudes psicológicas.
O Papa Bento XVI,em sua mensagem para 2010 diz: “também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem teoria erudita,mas uma realidade absolutamente concreta e atual”.
O fiel que se aventura com entusiasmo e com valor no mundo das comunicações sociais,sempre em ebulição de novidades tecnológicas surpreendentes,do Ipod ao Iphone ou ao Ipade,deve saber bem qual é o fim que o guia,para não ser capturado pelo fascínio pelas novos meios de comunicação e perdem assim seu caminho.O fim é o encontro com deus,o sentido último das relações de diálogo,amizade e de intercâmbio que a rede faz possível hoje.
Os acessos que se oferecem nos caminhos do espaço cibernético são inumeráveis,desde a superficialidade à falsidade,passando pela perversão,mas existem também muitos viajantes em busca da amizade,da verdade e do bem.
Não basta utilizar a mídia para difundir a mensagem;é necessário integrá-la a nova cultura digital.Para a Igreja,a comunicação não é um fenômeno externo ou secundário,pois a comunicação responde à imagem e semelhança com o Criador e sua prática aumenta a comunicação interpessoal.A comunicação está no código genético da Igreja,pois ela é mistério de comunhão.
Devem-se utilizar as novas tecnologias e as linguagens da mídia na aldeia global e fazê-lo com toda paixão e inteligência que surgem da convicção de ter uma Palavra preciosa para comunicar: a Palavra de Deus,inesgotável e bela que inspira toda nova expressão criativa e toda nova linguagem.
Na programação pastoral,é preciso oferecer uma clara disponibilidade para um diálogo franco e aberto com a cultura digital.A pastoral no mundo digital há de conseguir mostrar,aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje,que “Deus está próximo,que em Cristo somos todos parte uns dos outro”.
O empenho do sacerdote no anúncio do evangelho através dos novos recursos e meios de comunicação que o mundo atual nos disponibiliza deve contribuir para promover e reforçar os laços de união dos homens com Deus e da unidade dos homens entre si.

sábado, 6 de março de 2010

Quaresma: redescobrir a força do espírito do Senhor que habita em nós

Por Pe. Vicente Paulo, msj


Estimados irmãos e irmãs, neste tempo de quaresma somos movidos pela fé. A fé nos remete ao encontro com nossa própria humanidade para que possamos redescobrir a força do espírito do Senhor que habita em nós.
Quaresma é tempo oportuno para rever, repensar nossas atitudes, nossos pensamentos ou melhor, rever toda nossa conduta cristã.
Queremos mudar de vida. Sem mudança não existe conversão. Sem conversão não há possibilidade alguma para a transformação. Com o coração convertido somos mais seguros de nós mesmos, rompendo com a realidade do pecado. E como o pecado tem devastado a natureza humana, distanciando-nos do amor e da acolhida de Deus.
A ganância, o espírito consumista tem corrompido a vida humana, desfigurando sua dignidade, levando o ser humano à práticas abomináveis contra Deus e seu semelhante.
A Igreja no Brasil neste tempo quaresmal abre nossos corações para uma temática ecumênica, anunciando de uma maneira singular que a vida carece de uma atenção especial. Com o tema “Economia e vida” a Campanha da fraternidade quer ser antes de tudo uma chamada de atenção ao modo como estamos usufruindo da fé como manifestação e prova de amor em relação a Deus e ao próximo. Com o lema: “vocês não pode servir a Deus e ao dinheiro” conclama-nos para que na relação vida e fé é inconcebível deixar de servir a Deus colocando os bens matérias a cima da vida. Tudo o que temos é dom do criador, não podemos destruir aquilo que é sinal de bênção.
Quando falamos de mudança de vida não estamos falando de algo exterior ao nosso ser, mais pelo contrario é preciso olhar atentamente ao nosso redor tomar consciência de tudo aquilo que nos envolve. No caminho fé não pode haver um dualismo entre o que se crê, o que se prega e o que se vive.
No campo da economia faz –se vislumbrar um novo horizonte pautado pelo sentimento de compaixão e misericórdia onde o lucro não deva estar acima da vida. Para aquele que crê no projeto de Jesus, não pode de modo algum utilizar do meio econômico para explorar e oprimir.
Talvez seria prudente de nossa parte revestir –se de uma mística quaresmal, nutrir se do sentimento de cristo Jesus para transformar a vida em todas as suas dimensões. Lembremo-nos do que nos diz o Evangelho que apouco ouvimos. A justiça é pra se vivida em todas as dimensões da vida.
Participemos ativamente das celebrações e atividades penitenciais para que por meio da oração, do jejum e da caridade tenhamos um coração convertido, destruindo o pecado e com maior glória celebrar a Páscoa do Senhor, centro da fé cristã.
Que Deus abençoe a todos.

QUARESMA: TEMPO DE GRAÇA

Por Renato Marques

É quaresma! Tempo sagrado de estadia no deserto, no monte, na noite. Tempo necessário para percorrer um caminho, para poder chegar à liberdade plena de todos os nossos pecados e faltas. Muitos param no tempo sem compreender que não se pode aproximar de Deus sem passar um longo “período de quarentena”, para contemplar o rosto luminoso de Deus.
Quarenta...Número muito usado na literatura do Antigo e do Novo Testamento. Compreendemos a ideia de um tempo de preparação para algo importante que vai acontecer. Moisés passou 40 anos com o povo no deserto para ser preparado e ser introduzido na terra prometida. Não pensemos que foram anos fáceis, mas de provações em compensação, Deus prova o seu amor para com o povo. O Deus terrível revela-se amável, o Deus das trevas revela-se luz, o Deus da mente revela-se vida.
Jesus é conduzido ao deserto e passa quarenta dias. É bom ver que o Espirito o levou para ser tentado, o tempo favorável chegou para que Ele saísse vitorioso da tentação e iniciasse o seu ministério de anúncio da boa nova. A quaresma é também uma preparação; são quarenta dias de preparação, de conversão e penitência, da “passagem do pecado para a vida”, que se revela no acontecimento Pascal.
Quaresma é tempo de conversão! Tempo de mudar de vida. Muito se fala de conversão e pouco se vive, mas a quaresma é tempo oportuno para entrar em um processo verdadeiro de conversão, que não acontece somente em um dia, uma semana ou quarenta dias, mas deve acontecer constantemente.
Quaresma é tempo de penitência e de purificação. Hoje não deve ser entendida como vemos em alguns filmes ou escutamos algumas pessoas falarem, como sinônimo de sofrimento do próprio corpo ou dos outros, mas de algo que nos aproxima de Deus e dos irmãos. Eis o tempo favorável! Fazemos jejuns, penitencias e orações, mas anos passam e novamente voltamos à estaca zero. A exemplo de Jesus é preciso levar a sério a proposta da Sagrada Escritura, não ficar somente em busca de milagres e falsas promessas de prosperidade.
É tempo de amar e perdoar, é um tempo de graça, um sacramento; somos chamados a viver a nossa purificação. É preciso nos preparar para irmos ao encontro de Deus. Passemos, pois pelo deserto de nossa vida, na confiança de que Deus está conosco, agindo pelo seu Espirito de amor. É no deserto que devemos experimentar a nossa fragilidade humana e sentir tentados por tantas realidades que nos afastam de Deus. Não podemos deixar ser vencidos pelo prazer, pelo ter e pelo poder. É preciso enfrentar o deserto da vida e defrontar com o diabo para sairmos vitoriosos, assim como Jesus. Só assim podemos anunciar a boa nova e nos tornarmos mais sensíveis às realidades em que estamos inseridos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

OPINIÃO: Entre tempestades e terremotos, a solidariedade


Por Pe. Jaime Lemes, msj



“Será mesmo o fim?”. Este foi o questionamento de muitas pessoas com quem conversei a respeito dos últimos acontecimentos. Certamente, essa indagação ainda paira sobre a cabeça de muita gente. Quem que, diante de tantas cenas trágicas, não foi em algum momento tomado de sobressalto por essa ideia? Confesso que até eu.
Não teria como passar despercebido a ninguém, mesmo para as personalidades mais alheias às coisas deste mundo, os últimos acontecimentos, de modo particular os desastres causados pelas chuvas no Brasil e o terremoto que devastou Porto Príncipe, a capital do Haiti, vitimando mais de 100 mil pessoas, dentre as quais, vários brasileiros civis e militares que estavam lá em missão humanitária. Ambos os cenários são os retratos mais recentes da tragédia humana. Em face dessa realidade, há que se empreender um esforço conjunto não apenas para solucionar os problemas emergenciais, que sem dúvida precisam ser solucionados, mas também e com desmedido empenho pensar em ações práticas e eficazes que mudem radicalmente a relação do ser humano com a natureza, uma relação até então predatória, de exploração.
Recentemente, na Conferência de Copenhague, até houve um esforço, porém frustrado, para estabelecer algumas metas preventivas ao famigerado aquecimento global. A principal delas seria diminuir radicalmente a emissão de gases poluentes. Não houve acordo. Parece que os que governam o mundo não estão preocupados com o futuro do planeta e, consequentemente, com o destino da humanidade.
Parece inevitável, sobretudo para quem foi diretamente atingido, que todo esse caos provocado pela força da natureza seja mesmo prenúncio do fim dos tempos. Quantas famílias inteiras dizimadas! Quantas pessoas desabrigadas, feridas no corpo e na alma! Tenho um amigo em São Luiz do Paraitinga, o Felipe, que perdeu tudo. Ele morava com a mãe, Paula, e os seus cinco gatos. No dia da enchente, ele estava viajando, só ficou a sua mãe e os gatos em casa. Ela conseguiu se salvar e conta em detalhes regados de emoção como tudo aconteceu, em seu blog http://www.diariosdoretiro.blogspot.com/. Vale a pena ler. Este é apenas um dentre milhares de outros relatos que revelam o sofrimento e a luta pela sobrevivência.
Por outro lado, todos esses acontecimentos lamentáveis revelam outra face da tragédia: a sensibilidade humana na sua mais alta expressão, a solidariedade. É impressionante a participação das pessoas nas campanhas em prol dos desabrigados pela chuva e em prol do Haiti. Ao menos por alguns momentos cessam-se as diferenças religiosas, sociais e políticas; todos se unem por uma mesma causa. Isso nos faz pensar que nem tudo é o fim, que ainda há uma luz de esperança, que temos de continuar acreditando no ser humano. Pena que aqueles que têm nas mãos o poder direto e legítimo de mudar os rumos do mundo permanecem impassíveis à beleza do gesto dos mais simples e pequenos.
VEJA TAMBÉM: “2010, O Ano que não começou” - um documentário de oito minutos produzido por alunos de Jornalismo da Unitau – www.youtube.com/watch?v=09EKyXyl5c8.

Mensagem Missionária

Por Pe. Carlos Enrique
Estimados leitores do jornal Comunicando, primeiramente gostaria de parabenizar a equipe que vem mantendo este informativo como um instrumento precioso de comunicação para a Paróquia do Menino Jesus.
Já estou há quase dois anos aqui no Amazonas , tem sido uma experiência sempre surpreendente, o ritmo da natureza suas transformações e sua força ditam a conduta da vida das comunidades também na sua vivência religiosa. Depois da grande enchente a maior desde 1953 ,as comunidades ribeirinhas e mesmo a sede do município se ocuparam em reconstruir o que foi danificado nas casas , ruas ,prédios públicos ,etc. Entre as igrejas da cidade a única a não ser atingida foi a Igreja católica, sendo minha casa nos tempos da enchente. A pastoral ficou paralisada , as Santas Missões previstas para o mês de agosto não puderam ser realizadas, experimentamos um desânimo das lideranças. Não bastasse essa situação veio o tempo da seca, os rios baixaram assustadoramente, o lago do Anamã praticamente secou ficando somente o leito barrento do rio que forma o lago, toneladas de peixes mortos e a impossibilidade de usar a água contaminada penalizaram bastante as comunidades.
Nestes últimos dias o nível da água começou a subir, as chuvas já começaram anunciando a época do inverno amazônico ,ainda não temos previsão do que nos espera, todos rezam para que outra grande cheia não se repita.Na paróquia os preparativos para as Santas Missões marcadas para janeiro-fevereiro de 2010 ocupam nossa atenção, devido à seca a comunicação com as comunidades se torna muito difícil, mas conseguimos organizar os núcleos.
Esse trabalho das missões é nossa grande esperança de reanimar muitas comunidades que estão dispersas , desorganizadas e indiferente a pastoral e a evangelização.Tudo é muito diferente da realidade do sul-sudeste, é necessário realmente uma atitude missionária de escuta e mergulho na cultura local, atitudes essas nem sempre fáceis de serem vividas.Quem está de fora percebe melhor os avanços da comunidade, a mim me parece muitas vez que pouco foi atingido.
Ainda não temos o nosso próprio barco o que dificulta nosso trabalho e nos expõe a muitos riscos, visto que geralmente o que se consegue não tem as condições do que se poderia esperar para uma navegação segura.A comunidade sozinha não tem condições de comprar um barco adequado, estamos esperando o resultado de promessas de ajuda que tardam a chegar.
Estou feliz aqui, o povo tem me ensinado muito, especialmente nos momentos da adversidade, não encontrei quem desesperasse , pelo contrário há uma confiança e resignação diante das intempéries do tempo ,atribuídas ao desígnio de Deus e por outro lado muita criatividade para contornar as adversidades.È um povo alegre , gosta de dançar é muito festeiro, demora um pouco mas sabe ser muito acolhedor ,um povo de uma beleza simples e natural.

Informações para os pais


Período das Inscrições:

De 23/02 à 18/03/2010

Dias e Horários:

Terça,Quarta e Quinta- 19h:30m às 21h

Sábado- 9h:30m às 11h


Local das inscrições:

Sala da Catequese-Salão Paroquial


Documento Necessário:

Certidão de Batismo
(com registro de Nº,Folha e Livro)


Idade:
Completar 9 anos até 30/06/2010

Dúvidas:
Enviar e-mail para: cat.quese_pmj2009@hotmail.com

Obs:os dias e horários de turmas serão definidos pela equipe de catequese.

O QUE É CATEQUESE ?


Por Paulo Marcondes

Sempre que falamos em catequese,pensamos logo em receber sacramentos(Eucaristia/ Crisma),mais o termo catequese vai muito além.
A catequese é o processo permanente da educação da fé,onde a pessoa educada(criança,jovem ou adulto)se coloca em prontidão para a participação ativa na comunidade em que se vive.A palavra catequese significa ECOAR.Ecoar os ensinamentos de Cristo,sua vivência em nosso meio,testemunhar o encontro pessoal com Cristo,através de nossa própria experiência pela catequese vivencial(a qual fazemos participante integralmente na comunidade).
Umas das principais tarefas da catequese atual é inserir o catequizando/família na construção da Igreja,através do acolhimento da Palavra,aceitação de Deus na própria vida e o seguimento a Jesus Cristo se tornando discípulo/missionário.Devemos ter em mente que a catequese não é só parte do catequista,e sim uma vivencia da comunidade,que é a primeira responsável pelo trabalho catequético,assim, o catequista é o porta-voz da comunidade a qual ele participa.
Portanto,vamos deixar de lado aquela velha historia que participo da catequese para receber sacramentos,pois eles são uma conseqüência da adesão à proposta do Reino,revelado por Jesus e vivido em comunidade.Os sacramentos ajudam a alimentar o processo de crescimento na fé que é permanente,pois buscamos sempre a “maturidade em Cristo”(Ef 4,13) e esta só conseguiremos se vivermos os fundamentos da fé em comunidade.


Fundamentos para a matéria: Diretório Nacional de Catequese(DNC)

Natal e Ano Novo

Por Andréia Scotton
A modernidade é muito interessante, temos muita tecnologia, muita coisa para conhecer. Variados são os inventos e locais para visitação e diversão.
Muitos destes eventos nos divertem, mas existe um evento capaz de reunir famílias (da vovó ao netinho) que durante o ano todo pouco se vêem e que nesta data têm encontro marcado com um ilustre anfitrião que proporciona a todos a paz.
Este grande encontro acontece nas missas do Natal e do Ano Novo onde muitos têm a preocupação com os presentes, com a roupa branca, com a ceia, mas acima de tudo tem a consciência de que Jesus é o nosso grande presente no Natal (e durante todo o ano), o companheiro fiel do ano que está acabando e a paz que precisamos para adentrar o ano novo que vai chegar
É bonito de se ver. As famílias chegando, para a grande ceia com o Senhor. Jesus a espera de todos os que por Ele foram salvos. Parece que nestes dias ficamos mais sensíveis, queremos estar junto da família, queremos agradecer a Deus por suas bênçãos, pedir por outras, mas que nestes momentos é preciso estar pertinho de quem se ama.
Graças a Deus, em nossa paróquia acontece o mesmo, todos em comunidade, todas as pastorais. E ficamos felizes em encontrar companheiros de comunidade que a muito não víamos, felizes pelo Padre Jaime que pôde passar o Natal com sua família também (pois vida de padre não é fácil).
Que a nossa paróquia continue sempre cheia de famílias celebrando o Natal, o Ano Novo, a Páscoa, Corpus Christi e todas as celebrações que pudemos participar, sempre acompanhados pelo Pai Eterno.

Santo em destaque

Por Verônica Moraes
Nossa Senhora da Luz também conhecida por Nossa Senhora da Candelária, Nossa Senhora das Candeias ou ainda Nossa Senhora da Purificação
Naquele tempo, toda mulher que dava a luz era considerada impura e não podia entrar no templo antes que seu filho completasse 40 dias. Quando desse 40 dias (por isso a comemoração acontece no dia 2 de fevereiro) a mulher devia se apresentar ao Sumo-sacerdote, a fim de apresentar seu sacrifício, um cordeiro, duas pombas ou duas rolas, dessa forma poderia se purificar.
Como bons cumpridores das leis, José e Maria se apresentaram a Simeão, que após ter revelado coisas maravilhosas sobre o Menino Jesus, teria diato a eles:
“Agora, Senhor, deixa partir o vosso servo em paz, conforme a Vossa Palavra. Pois os meus olhos viram a Vossa salvação que preparastes diante dos olhos das nações: Luz para aclarar os gentios, e glória de Israel, vosso povo” (Lucas, 2, 29-33).
Foi com fundamento na “Apresentação de Jesus e Purificação da Virgem” que nasceu a festa de Nossa Senhora da Purificação; do cântico de São Simeão, que promete que Jesus será a luz que irá iluminar os pagãos, nasce a veneração em torno de Nossa Senhora da Luz/das Candeias/da Candelária, cujas festas são geralmente celebradas com uma procissão de velas, para relembrar o fato.