quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dia Mundial dos Enfermos: tornar a sociedade mais sensível aos doentes

Prof. José Pereira


Todos os anos,na memória de Nossa Senhora de Lourdes,que se celebra a 11 de fevereiro,a Igreja Católica propõe o Dia Mundial dos Enfermos.O tema para esse ano é: “Pelas suas chagas fostes curados”(1 Pd 2,24).
Ocasião para refletir sobre o mistério do sofrimento e,sobretudo,para tornar a sociedade civil mais sensível aos doentes.
Em sua mensagem para o XIX Dia Mundial dos Enfermos,o Papa Bento XVI pede que os cristãos e os homens de boa vontade reservem para os doentes o foco de suas atenções.Os sofrimentos de Jesus Cristo oferecem o referencial para a avaliação de nossas próprias dores.
Se todos os homens são nossos irmãos,aquele que é débil,sofredor ou necessitado de cuidado deve estar mais no centro da nossa atenção,para que nenhum deles se sinta esquecido ou marginalizado.Como disse o Papa Bento XVI: “A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre.Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade.Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir mediante a compaixão,para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente,é uma sociedade cruel e desumana”.(Spe Salvi,n.38).
É preciso reconsiderar a realidade do sofrimento e da enfermidade na perspectiva do mistério da encarnação do Filho de Deus,para haurir deste extraordinário evento uma nova luz acerca destas fundamentais experiências humanas.
No decurso da história,o homem fez frutificar os recursos da inteligência e do coração para superar os limites inerentes à própria condição e realizou grandes conquistas em prol da salvaguarda da saúde.
Porém não se pode dizer que a humanidade fez tudo quanto é necessário para aliviar o imenso fardo do sofrimento que ainda pesa sobre os indivíduos,as famílias e as nações.
Ao mesmo tempo,ao eclipse da fé,especialmente no mundo secularizado,acrescenta-se uma ulterior e grave causa de sofrimento: aquela de não se saber mais captar o sentido salvífico do sofrimento e o conforto da esperança.
Infelizmente,em não poucos casos,o progresso econômico,científico e técnico não se fez acompanhar de um desenvolvimento autêntico,centrado na pessoa e na dignidade inviolável de cada ser humano.
Por um lado,realizam-se esforços ingentes para prolongar a vida e até mesmo para a procriar de maneira artificial;por outro,não se permite que nasça quem foi concebido,e acelera-se a morte daqueles que não são mais considerados úteis.Além disso,enquanto justamente se valoriza a saúde multiplicando-se às vezes a uma espécie de culto do corpo e à busca hedonista da eficácia física,ao mesmo tempo há pessoas que se reduzem a considerar a vida como mera mercadoria de consumo,determinando novas marginalizações para os portadores de deficiência,os idosos e os doentes terminais.Em muitos lugares os doentes às vezes ainda sofre em virtude de determinadas marginalizações e a carência do apoio social.Esta atenção deve alargar-se também aos campos do mundo em que aos doentes mais necessitados,apesar dos progressos da medicina,ainda faltam remédios e uma assistência adequada.
Todas estas contradições e situações paradoxais são reconduzíveis à falta de harmonização,por um lado,entre a lógica do bem-estar e da busca do progresso tecnológico,e por outro,a lógica dos valores éticos fundados sobre a dignidade de cada ser humano.
Cristo disse: “Estava doente e me visitastes”(Mt 25,36).É a presença viva de Cristo em cada pessoa que sofre.
Lembrou o Papa Bento XVI: “Deus,a verdade e o amor em pessoa,quis sofrer por nós e conosco;fez-se homem para poder compadecer-se com o homem,de modo real,em carne e sangue.Em cada sofrimento humano,portanto,entrou Aquele que partilha o sofrimento e a paciência;em cada sofrimento difunde-se a consolatio,a consolação do amor partícipe de Deus para fazer surgir a estrela da esperança”(Spe Salvi,n.39).
O mistério da Encarnação de Deus exige que a vida seja compreendida como dádiva de Deus a conservar com responsabilidade e a despender em vista do bem: por conseguinte,a saúde constitui um atributo positivo da vida,e deve ser procurada para o bem da pessoa e do próximo.Todavia,a saúde é um bem penúltimo na hierarquia dos valores,que há de ser cultivado e considerado na ótica do bem total e,portanto,também espiritual da pessoa.
Deus quer curar o homem todo,o corpo e o espírito.Nesta circunstância,é em particular a Cristo sofredor e ressuscitado que o nosso olhar se dirige.Assumindo a condição humana,o Filho de Deus aceitou vivê-la em todos os seus aspectos,inclusive o sofrimento e a morte,completando na sua pessoa as palavras pronunciadas na última ceia: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos”(Jo 15,13).
Cada um de nós é chamado a fazer-se próximo dos irmãos e das irmãs que sofrem,mediante o respeito,a compreensão,a aceitação,a ternura,a compaixão e a gratuidade.Trata-se de lutar contra a indiferença que leva os indivíduos e os grupos a fecharem-se egoistamente em si mesmos.
A família,a escola,as outras instituições educativas – ainda que seja somente por motivos humanitários – devem trabalhar com perseverança no sentido de despertar e apurar aquela profunda sensibilidade para com o próximo e o seu sofrimento.
Nas pessoas que crêem,esta sensibilidade humana é assumida no amor sobrenatural que leva amar o próximo por amor a Deus.O exemplo de Jesus,bom samaritano,impele não só a assistir o doente,mas também a fazer o possível para o reinserir na sociedade.
Jesus não só purificou e curou os enfermos,mas foi também um incansável promotor da saúde através da sua presença salvífica,do ensinamento e da ação.O seu amor pela pessoa humana traduzia-se em relações repletas de humanidade.Ele comovia-se diante da beleza da natureza,sensibilizava-se diante do sofrimento dos homens e combatia o mal e a injustiça.
A saúde não se limita à perfeição biológica,também a vida vivida no sofrimento oferece espaços de crescimento e de auto-realização,abrindo caminhos rumo à descoberta de novos valores.Assim,longe de identificar a saúde com a simples ausência de enfermidades,coloca-se como tensão rumo a uma mais plena harmonia e a um sadio equilíbrio a nível físico,psíquico,espiritual e social.Nesta perspectiva,a pessoa mesma é chamada a mobilizar todas as energias disponíveis para realizar a sua vocação e o bem do próximo.
Somos chamados a desenvolver um olhar de fé sobre o sublime e misterioso valor da vida,também quando ela se apresenta frágil e vulnerável.A vida deve ser defendida e valorizada desde a concepção até seu fim natural.Disse Cristo: “Vim para que tenham vida,e a tenham em abundância”(Jo 10,10).

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